segunda-feira, 3 de agosto de 2009

A Morte do Amor e Suas Consequências - Continuação

1.3 Do Amor-Sexual segundo Schopenhauer e sua presença na Metafísica do Amor, como ilustração à Morte do Sentimento


Em sua obra "O mundo como vontade e representação", no "Suplemento ao livro quarto", capítulo XLIV, Arthur Schopenhauer apresenta sua Metafísica do Amor, explicando o amor como um sentimento instintivo, meramente físico-sexual. Para ele, o amor enraíza-se somente no instinto natural dos sexos, um impulso sexual "perfeitamente determinado e individualizado". Schopenhauer questiona o porquê de um sentimento causar tanta euforia nos homens, bagunçando a vida de todas as pessoas, tornando sem honra homens honestos, criando disputas e embates, causando assassinatos e suicídios, levando pessoas à loucura e à miséria, confundindo e destruindo tudo por onde passa. Tudo para que cada um encontre seu par.

É bom esclarecer que a visão de Schopenhauer quanto ao amor não é das mais românticas. Ver tal sentimento apenas como um impulso sexual natural simplifica-o de tal maneira, que seria possível formar estratégias baseadas em sua filosofia para alcançar a felicidade com o amor. Porém suas idéias são de grande serventia para explicar a depressão causada por uma decepção amorosa. Atenhamo-nos a esta linha de raciocínio.

Em trecho de seu texto, logo na apresentação da idéia de metafísica, Schopenhauer explica a questão da busca dos seres pelo amor como a importância sumária da composição da próxima geração. É como se a vida fosse uma enorme peça de teatro sem fim, em que os atores desta geração têm a obrigação de preparar a cena para os atores da próxima. Essa composição seria formada pelos impulsos sexuais. Todas as gerações seguintes dependem das relações impulsivas naturais de gerações anteriores, de formas individualizadas, porém sob aspectos gerais. Tudo na verdade não passa de uma satisfação geral do instinto, pela sobrevivência da espécie, sua evolução e garantias de condições promissoras de reprodução. Assim sendo, o amor representa uma condição suprema de existência da espécie, independentemente das individualizações deste sentimento. Como diz Schopenhauer: "É por isso que se torna tão difícil despertar interesse em um drama no qual não existe uma intriga amorosa; ao contrário, mesmo tratado constantemente, o tema nunca se esgota"(Metafísica do Amor, página 83).

É da individualização do impulso sexual como forma de garantia da sobrevivência dos melhores genes, que geralmente é constituída de forma vaga e generalizada (principalmente no sexo masculino), que surge o amor. Determina-se um parceiro ou parceira em especial, pois esta pessoa traz a melhor forma de sobrevivência de sua espécie, de seus genes para as gerações futuras, com certeza de não diminuir as capacidades potenciais de cada indivíduo. Assim, o impulso meramente sexual ilude a consciência, tornando a pessoa escolhida simplesmente para reprodução em um ser especial, digno de admiração. É uma idéia assustadora, mas com sentido. Por mais que se admire e deseje a pessoa amada, o único fim é a reprodução para a garantia de existência da espécie. Isso é provado pelo fato de não bastar que haja o amor recíproco, mas sim o contato pessoal, com fim no gozo físico. É claro que com o avanço tecnológico e o aumento de namoros pela internet, por exemplo, esta teoria pode se tornar ultrapassada, mas desafio qualquer casal de namorados virtuais a não manterem contatos físicos e continuarem a se amar, como dizem que o fazem. Ter certeza de ser amado não consola a ausência do gozo físico, segundo Schopenhauer. No fim, o que importa é que uma criança seja gerada, embora os envolvidos no caso amoroso não tenham consciência disso, enganados como estão pela ilusão do instinto.

Uma das revelações mais surpreendentes está no fato de que, quando um casal se encontra, a análise é feita instantaneamente, a troca de olhares e desejos que acontecem antes mesmo da primeira conversa é por vezes o que define a geração futura. Por essa razão é que existe o chamado "amor à primeira vista". A análise é satisfatória para ambos: a mulher vê no homem, pelos olhos do instinto, aquele que pode garantir a segurança da prole, além de satisfazer os quesitos para sua existência, e o homem vê na mulher uma progenitora capaz de dar á luz filhos saudáveis e com preenchimento de qualidades que lhe são essenciais. Não é preciso haver o amor à primeira vista: o mero interesse já é explicado por esta teoria. Do mesmo modo, se à primeira vista há uma aversão, o instinto está avisando que uma criança gerada de tal relação poderia ser um ser mal formado. "Essa força suprema, que atrai um para o outro dois indivíduos de sexos diferentes, é a vontade da vida manifesta em toda espécie, e procura realizar-se segundo os seus no indivíduo que deles deve nascer" (Schopenhauer, Arthur - "Metafísica do Amor" in "O mundo como vontade e representação", pág. 85).
por Guilherme Peace e Pietro Borghi- continua.