sábado, 5 de setembro de 2009

De Bagunça Organizada a Letom Café Oxes Bar - uma ascensão musical


Na música, assim como em toda expressão artística, as mudanças acontecem naturalmente, com o passar do tempo e a vivência de experiências. Os bons músicos e as boas bandas estão em constante mutação, os fãs decidindo se pra melhor ou pior. O importante é a renovação das idéias. É claro que não apóio a perda da identidade, mas a mudança como renovação e crescimento.

A banda Bagunça Organizada foi formada em 2003 por mim, quando fui morar em ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Na época eu mal sabia tocar guitarra, mas tinha algumas idéias fervilhando na mente e rabiscava letras de música em todo espaço branco que encontrava.

Assim como muitas bandas de Punk Rock, o Bagunça Organizada tinha um som simples, sujo, revoltado. Era a minha fase pessoal de revolta adolescente. Energia condensada. O baterista era Lucas C.P., que conheci nas primeiras semanas em que morei em Ribeirão. Assim como eu, ele mal sabia tocar. Era mais barulho e gritaria do que música de verdade. Mas era o que eu sempre havia querido.

As influências principais eram de Nirvana e Ramones, com pitadas ardidas de Sex Pistols, meladas de Blink 182 e o metal de Rhapsody (por parte do guitarrista à época, Codorna).

Minhas letras eram apenas frases soltas sobre os problemas pessoais que enfrentava, problemas estes enfrentados por qualquer adolescente roqueiro com disfunções familiares, o que fez com que a banda ganhasse identificação com a cena ribeirão pretana.

Com o público aumentado e a quantidade de shows em plena ascensão, me senti obrigado a melhorar a qualidade das músicas, mantendo a identidade grunge da banda. Isso, somado às desavenças entre os músicos e eu (que se tornaria tão constante com o passar dos anos), e com a entrada de outros integrantes na banda fez com que o Bagunça Organizada começasse a realmente aparecer, fazer alguma relevância, ainda que mínima. Nesta época somaram-se à banda Armando Pote, na guitarra solo, André Shotas, no contra-baixo e Daniel Z, na bateria.

Daniel era dono de um estúdio para ensaio de bandas, o que fez com que passássemos maior tempo tocando e compondo. Por dificuldades financeiras, a possibilidade de um disco gravado era quase nula.

Ficamos nesta formação, e arrisco dizer que algumas das melhores músicas foram compostas nesta época. "Love Frances", "no Musics, no ideas", "F. the famme", entre outras que se perderam conforme a banda se modificou foram compostas neste tempo, assim como outras que ainda perduram, como a principal música já composta por mim, "Hole".

Éramos uma banda grunge, sem demasiadas pretensões, o que nos tornava sinceros. "Hole" é uma música tão simples, mas com riff marcante, que a transformou na cara do Bagunça Organizada.

Os festivais eram comuns, e em um deles vi uma banda cover de Nirvana. O baixista da banda era fantástico. Eu disse pra mim mesmo: um dia esse cara vai tocar comigo.

Compôr em inglês era mais fácil. Ora, como eu poderia gritar e fazer barulho com a guitarra, de forma enérgica e doentia, falando português? Era o que eu pensava, justamente por achar que rimas em português eram mais difícieis, pois fariam com que o público prestasse atenção às letras, o que me incomodava um pouco. Portanto, escrevendo em inglês eu poderia cantar qualquer coisa sem me preocupar com a aprovação do público. Logo descobri que me expressar em português era muito melhor.

Minhas letras soavam infantis, fracas, mas me esforcei. Ouvindo muito Chico Buarque e Los Hermanos, banda pela qual me apaixonei com uma intensidade impressionante, comecei a escrever melhor.

Daniel, Armando e Shotas saíram da banda; entraram Budê e Popô, o que deu a banda a profissionalidade que faltava. Logo precisávamos de um baixista, e Popô indicou Gabriel Rieger, considerado por muitos o melhor baixista de Ribeirão Preto. Descobri que era ele o baixista da cover de Nirvana que eu assistira anos antes.

Depois que Budê resolveu seguir outras linhas musicais, o posto de baterista foi preenchido por Guilherme Rieger, irmão mais novo de Gabriel, e uma promessa de baterista de qualidade para Ribeirão Preto. Nesta formação o Bagunça Organizada se consolidou como a melhor banda grunge de Ribeirão Preto e região.

Gravamos o CD "Canções Para se Esquecer" no estúdio Vira Disco, com produção de Breno Vetorassi, atual baterista da Los Hermanos Cover. As 6 músicas do disco mostram bem a cara da banda por toda a sua história, com músicas compostas anos antes e outras bem recentes.

Logo, Popô saiu da banda. Desmembrada novamente, Bagunça Organizada começava a declinar. Seu último suspiro foi um show em São Paulo, com André Costa na guitarra.

Vim morar em São Paulo, Gabriel passou na faculdade em São Carlos. Afastados, a perspectiva de manter o som era mais distante, mas a vontade latente persistiu. Em reunião, decidimos abordar a música de outra forma, com outras vertentes. Eu havia adquirido conhecimentos diferenciados, assim como Gabriel e o Guilherme Rieger, e queríamos experimentar coisas novas. Resolvemos reformular tudo, começando pelo nome. Assim surgiu Letom Café Oxes Bar, ou simplesmente LeCOB.

Misturar ritmos brasileiros e compôr letras essencialmente em português, com o cuidado de valorizar a gramática, métrica e principalmente o sentimentalismo, fez do LeCOB uma banda com uma proposta diferente.

Gravamos duas das muitas novas músicas, em encontro recente. A banda não tem a constância normal das bandas, de ensaios marcados e organizados, pois fazemos o que podemos quando nos encontramos. Mas saber que ainda somos unos nos faz criar cada vez mais. Além disso, estamos em contato permanente com a música, pois cada integrante do Letom Café Oxes Bar participa de projetos paralelos, que fortificam e enriquecem o som da banda sempre que nos encontramos e compomos.


Você pode escutar as novas músicas de Letom Café Oxes Bar, além das antigas, gravadas na época de Bagunça Organizada em: