
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
segunda-feira, 5 de julho de 2010
Caixa misteriosa gera polêmica

Foto: Guilherme Berti
Alguns pensaram ser uma bomba. Outros se sentiram ofendidos. Teve gente que até gostou da ideia. O fato é que a caixa de papelão colocada em uma esquina da praça Antônio Ferri, em frente à mesquita, no Alto do Ipiranga, tem causado polêmica e curiosidade por quem passa ou vive no bairro. Todo o alarde acontece porque uma folha de papel, anexada à caixa, traz ofensas às pessoas que levam seus cachorros para fazer suas necessidades no local. Como ninguém sabe quem é o autor da peça, muitos têm medo de se aproximar. E o mistério aumenta quando se percebe que a caixa está lacrada por fita adesiva e é pesada o bastante para se manter no local.
A arquiteta Sandra Nakanishi, de 31 anos, que aproveita as manhãs livres para passear com o seu bebê pela praça, percebeu, em uma de suas caminhadas, a caixa deixada próxima ao poste de energia. "Aproximei-me, li e fui obrigada a concordar".
Os dizeres, "Local apropriado para burros e ignorantes jogarem as fezes de seus cachorros", escritos em um papel colado à caixa de papelão, expressam o que Sandra acha sobre o assunto. "Muita gente traz seus cães para evacuar por aqui e não recolhe as fezes. Eu mesma já tive a infelicidade de atropelar uma destas ´bombas´ com o carrinho de meu filho". A arquiteta explicou que o problema, além da falta de educação dos donos de animais, é a falta de lixeiras no local. "Havia um cesto, mas ele foi quebrado recentemente".
Para outros, a caixa é uma ofensa, tratando-se de rixa da vizinhança, macumba ou até bomba. Uma mulher que não quis se identificar, por medo de represálias, afirmou que ofender os moradores é uma falta de respeito. "Aposto que foi para atacar certa senhora que leva seu poodle gordo para se esvaziar na grama da praça".
Outra moradora foi enfática: "É macumba. Certeza que é macumba". Um transeunte mais brincalhão comentou: "Em frente à mesquita... tomara que não seja bomba!". No entanto, a caixa continua na praça e seu autor permanece no anonimato. Dentro, algumas pedras mantêm o peso para que o vento não carregue a polêmica manifestação em papelão.
sábado, 12 de junho de 2010
Três amores inusitados

da reportagem Mogi News
Foto: Mauricio Sumiya
Silva conheceu Dilma no colégio. Ambos haviam parado de estudar quando jovens e se encontraram na escola, já adultos, onde participavam do programa Educação para Jovens e Adultos (EJA). Silva afirma que já havia visto Dilma andando pelo centro de Mogi e ficou encantado. "Mas é aquele tipo de pessoa que você vê na rua, acha interessante, mas sabe que nunca mais vai reencontrar". No entanto, o destino conspirou a favor deles. Dilma também conhecia Silva de vista e ficou impressionada por acabarem na mesma sala de aula, tantos anos depois. "Fiquei olhando para ele disfarçadamente, não sabendo como me aproximar", conta Dilma.
Era Dia dos Namorados e a professora pediu um trabalho em dupla. "Ficamos juntos e viramos amigos na mesma hora". Durante um ano, Dilma e Silva continuaram se encontrando, até que a data especial chegou novamente. "Eu a pedi em namoro, pois já tinha a sensação de que ela era a mulher da minha vida", conta Silva, emocionado. No ano seguinte, considerando a data como especial e de sorte, os dois se casaram. "Deu certo, pois somos realmente felizes juntos".
Pela Internet
A manicure e depiladora Sandra Regina de Oliveira Duarte Lobo Pereira, 37, viu o marido Edson Duarte Lobo Pereira pela primeira vez em uma palestra ministrada por ele em um centro budista. Sandra o achou inteligente e distinto, mas nada demais. Pereira, por sua vez, nem reparou na mulher. Algum tempo depois, ambos começaram a conversar pela Internet. "Adicionei o Edson em meu Orkut (site de relacionamentos) e começamos a nos conhecer melhor".
Como se identificaram logo de início, as conversas on-line se prolongaram por dias, até que marcaram um encontro no shopping. "Tomamos um café e fomos para a casa dele, onde apenas conversamos, por 13 horas seguidas", conta Sandra. A partir daquele dia, ela ficou apaixonada. Com o tempo, começaram a namorar e, em abril deste ano, se casaram.
Longa união
Outro casal que curtirá o Dia dos Namorados com bastante romantismo será o de José Antônio Soares, 53, que prefere ser chamado de Tom, parapsicólogo, e João Paulo de Oliveira Santana, barman, 33. A união dos dois completa 15 anos em 2010 e todas as dificuldades enfrentadas para que ficassem juntos não foram suficientes para diminuir a intensidade de seu amor.
Tom e João se conheceram no bar de uma amiga em comum, mas João já namorava na época. Como gostaram muito um do outro, João terminou o namoro para assumir um compromisso com Tom. "Ele me impressionou, pois disse que queria alguém que pudesse levar a sério, com quem pudesse construir uma vida. Assim, aceitei", relembra Tom.
Ele explica que sofreram diversos tipos de preconceito, principalmente por morarem juntos desde então. "Nossa união é estável e o relacionamento é como qualquer outro. Temos nossas brigas e nossas reconciliações".
De acordo com Tom, o segredo para manter o amor por todo este tempo é nunca deixar um assunto inacabado. "Quando brigamos, vamos até o fim, para resolver a questão. Assim, nunca dormimos separados". Hoje, o casal é dono de um bar no centro de Mogi e vive bem. "É preciso ser sincero com os sentimentos, ter respeito pela pessoa amada".
Para o Dia dos Namorados, Tom não quer revelar a surpresa, mas revela que envolverá um buquê de flores e um cartão musical bem cafona, pois, de acordo com Tom, assim é que o amor deve ser.
Este texto foi originalmente publicado no jornal Mogi News, a 12/06/2010.
quarta-feira, 9 de junho de 2010
domingo, 30 de maio de 2010
Mudhoney: O grunge não morreu, só estava dormindo
Da Reportagem local
Foto: Vitória Costa
......Não, não estamos falando de Mogi. Esta é a Seattle de Mark Arm, Steve Turner, Guy Maddison e Dan Peters, os rapazes do Mudhoney. A banda precursora do movimento grunge esteve em Mogi no sábado passado (22), como a principal atração da Virada Cultural Paulista. Atraindo o maior público da festa, cerca de 15 mil pessoas se espremeram na Avenida Cívica para assistir ao show da banda, os integrantes do Mudhoney logo se identificaram com nossa cidade, pelas semelhanças com sua terra natal.
......As condições de Seattle no final dos anos 1980 foram de suma importância para o surgimento do grunge. De tão entediados, ainda que não soubessem tocar corretamente, aqueles jovens provincianos resolveram criar a própria música para passar o tempo e soltar a opressão em que acreditavam viver. Não eram, nem de longe, tipos ideais de astros do rock, propensos ao heavy metal. Também não estavam se preocupando com os problemas de cunho social, descartando o punk. Era apenas expressão, com suas guitarras barulhentas e vocais gritados, usando as mesmas roupas com que costumavam trabalhar ou se proteger do frio. O Mudhoney foi a primeira banda a ter este tipo de som reconhecido no meio alternativo e independente.
......O termo "grunge", que vem de "grungy" - encardido, em inglês -, ilustra bem o tipo de música destas bandas. Ninguém poderia dizer que este estilo um dia faria tanto sucesso. Até que, em 1991, outro rapaz de cabelo engordurado, Kurt Cobain, mostrou sua Smells Like Teen Spirit para o mundo, em um dos álbuns mais importantes de toda a história do rock. Nevermind chegou a desbancar Michael Jackson do primeiro lugar das paradas da Billboard, o que não acontecia há anos. O Nirvana de Cobain foi totalmente influenciado por Mudhoney. Se hoje você usa roupas com estampas em xadrez, calças jeans desfiadas ou camisas de flanela, moda típica da geração X, agradeça ao grunge.
Guilherme Peace: Esta é a quarta vez que tocam no Brasil. Existe alguma diferença do público brasileiro com os fãs de outros países?
Mark Arm (vocalista): Existe sim! Os brasileiros são mais calorosos. Mas a maior diferença, e o mais legal, é que o público do Brasil canta junto todas as canções, inclusive as mais recentes, o que não é muito comum nos outros países.
GP: E como é tocar hoje as mesmas músicas de 20 anos atrás e ver todo este público, uma mistura entre velhos e novos fãs, de várias idades diferentes?
Steve Turner (guitarrista): Cara, isso é uma coisa maluca! [risos] Acho que o ponto alto da música é esse lance de não envelhecer, sabe? As canções acabam sendo meio atemporais...
GP: Vocês influenciaram toda uma geração, além de iniciar um movimento musical que alguns chamam de "último suspiro do rock". Acham que sua música mudou muito de lá pra cá, ou ainda é o grunge de sempre?
Turner: Não mudou muito não. Só o fato de que estamos mais velhos.
GP: No começo, Mark Arm fazia parte do Green River, banda que se dividiu, e dessa divisão surgiram o Mudhoney e o Pearl Jam. Por que vocês não seguiram o mesmo caminho de fama que o Pearl Jam, no meio mainstream?
Turner: Acho que nossa música sempre foi muito mais "suja" do que a dessas outras bandas... Não queríamos seguir o mesmo caminho...
Arm: Na verdade, não esperávamos chegar tão longe. E olha onde estamos... em Mogi das Cruzes! [risos]
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Esta reportagem foi originalmente publicada nos jornais Mogi News, de 28/05/2010, e Diário do Alto Tietê, de 29/05/2010.
sexta-feira, 28 de maio de 2010
Autoramas faz show supimpa em Mogi
Uma das bandas mais esperadas nesta Virada Cultural de Mogi, os Autoramas fizeram uma apresentação disposta a animar o público. Com músicas dançantes, nos estilos rockabilly e new wave surf, como os próprios músicos se intitulam, os cariocas Autoramas deram aos mogianos outro show de alta qualidade, mesmo de graça,
A banda, formada no Rio de Janeiro em 1997, entrou em maior evidência no cenário musical nacional com a gravação do CD e DVD MTV: Autoramas Desplugado, lançado no ano passado. A banda tocou sucessos dos cinco álbuns da carreira, alternando nas vozes do topetudo Thomaz e da ruiva Flávia.
Mas esta não foi a primeira vez que Autoramas veio a Mogi. "Estivemos aqui há nove anos", disse o vocalista Thomaz. "Na época não éramos tão conhecidos". E ele elogia o público mogiano. "Foi um show muito supimpa. Gostaríamos de voltar mais vezes, mas vários fatores impedem. Esperamos que os produtores daqui nos convidem mais". Os fãs que moram em Mogi também.
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Esta reportagem foi originalmente publicada no jornal Mogi News, a 26/05/2010
quinta-feira, 27 de maio de 2010
Funk Como le Gusta agita Virada Cultural Paulista

da reportagem local
foto: Divulgação
Em sua terceira edição em Mogi, a Virada Cultural Paulista bateu recorde de público: cerca de 60 mil pessoas acompanharam o evento, segundo dados da Secretaria de Estado da Cultura. O palco principal, montado na Avenida Cívica, foi o que atraiu mais público. No primeiro show da programação, o grupo Funk Como Le Gusta já mostrou o que estava por vir nas 24 horas ininterruptas de atrações.
Quase uma big band de funk, soul e samba-rock, o conjunto musical paulistano abriu os shows na Avenida Cívica com grande categoria, como é de praxe em suas apresentações. O naipe de metais formado por sax, trompete e trombone dava o brilho típico ao ritmo black, enquanto as melodias vocais e dos demais instrumentos seguravam as batidas latinas. A mistura de estilos é o grande ponto da banda, que com seus 12 integrantes, já fizeram parcerias com gente como Seu Jorge, Marcelo D2 e Fernanda Abreu.
O público dançou e acompanhou os vocais nas canções preferidas, sempre entusiasmado. Ao término do show, uma surpresa: no lugar do eventual bis, a banda se equipou com instrumentos como tambores e atabaques e foram tocar no meio da multidão, formando uma grande fila atrás de si.
Todos tiveram a oportunidade de ficar próximos ao grupo, cantando e dançando juntos, ao som dos graves bumbos africanos. De acordo com o percussionista e vocalista da banda, James Müller, o show na Virada de Mogi serviu para comemorar os 12 anos de Funk Como Le Gusta. "Esta brincadeira de ir para o público é uma coisa que fazemos desde o início, para sentir a energia positiva sendo transmitida diretamente para nós, nesta vibe tão real".
quarta-feira, 26 de maio de 2010
Bandas mogianas fazem show de peso na Virada Cultural
Guilherme Peace
da reportagem local
Foto: Rodrigo Barone
Um show intimista, quase familiar, em um palco de dar medo. Assim é que se pode falar da participação das bandas mogianas Maquiladora e Jane Dope na Virada Cultural Paulista de Mogi, no último domingo. Mesmo tocando em um horário complicado, às 9 horas, e para poucas pessoas, sendo a maioria cling-on´s, que sempre acompanham os grupos, não houve desânimo para o rock alternativo. Com tempo suficiente para apresentar todas as canções do repertório, que são essencialmente curtas, ambas as bandas aproveitaram ao máximo as vantagens de tocar em um palco profissional, em um evento de peso e com equipamento de primeira. A pouca duração das músicas, no entanto, não é sinônimo de pouca qualidade.
Todos os ritmos, riffs de guitarra e linhas melódicas da Maquiladora fizeram jus aos quase quatro anos de estrada. Com influências diversificadas, que vão de PJ Harvey a Coltraine, a banda garantiu um show para deixar marcas.
Segundo Andrea Marques, baterista, tocar na Virada Cultural é uma oportunidade única. "Dá até uma sensação de realização, tocar no mesmo palco em que tocou o Mudhoney". Os integrantes da Maquiladora também tiveram a chance de conhecer a banda de Seattle, entrevistá-los e dar seus CDs de presente.
Já os integrantes da Jane Dope resolveram "exorcizar os demônios", como disse o vocalista e guitarrista Régis Vernissage. "O espaço para as bandas autorais em Mogi é muito limitado, e oportunidades como esta devem ser mais frequentes". As bandas também preparam um documentário sobre o cenário independente de Mogi, que deve ser lançado até o fim do ano.
Reportagem originalmente publica no jornal Mogi News, a 25/05/2010
quinta-feira, 20 de maio de 2010
101 anos de saudades. E de solidão.
da reportagem local
Foto: Adriano Vaccari
Duas Guerras Mundiais, a bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki, o naufrágio do Titanic, a Crise de 1929, o governo e a morte de Getúlio Vargas, a Ditadura Militar no Brasil, o início da democracia no país e a posse de 24 presidentes da República. Estes são apenas alguns dos acontecimentos que a aposentada Virgínia Cândida de Jesus acompanhou, em seus 101 anos de vida, completos na última segunda-feira.
Natural de Lençóis Paulista, dona Virgínia hoje mora em Mogi, no distrito de Jundiapeba. Devido a complicações físicas causadas pela idade avançada, a aposentada centenária não consegue se locomover sem a ajuda de uma bengala, e passa a maior parte do tempo deitada em uma cama na sala. No entanto, todo o tempo de vida não afetou sua lucidez. Com a voz tímida e o sorriso de gente simples, dona Virgínia chega a fazer diversas brincadeiras, enquanto relembra um pouco de sua trajetória. “Acho que o que me fez viver tanto foi o trabalho”, ela conta. “Trabalhei muito nessa vida”.
De modo bem humorado, a aposentada relembra de pequenos fatos do passado. “Conheci meu marido em um baile, há quase um século”. E sorri. “Não esperava que fosse viver tanto. Já tenho até tataraneto”. Quando se perguntam quantos descendentes já tem, dona Virginia se esforça, mas não lembra. Sempre sorridente, ela explica: “Se eu tivesse dinheiro igual tenho netos e bisnetos, estaria rica”.
Mesmo com as delimitações impostas pela idade, dona Virgínia continua cuidando da família. “Se vejo uma das minhas filhas (que chegam a ter 60 anos) aprontando algo, dou-lhe uma bengalada”. Orgulhosa, a aposentada mostra sua carteira de identidade, onde uma foto de quando era mais jovem, provavelmente tirada ainda nos anos 1950, ilustra os dizeres de “brasileira não alfabetizada”. Para dona Virgínia, isso não foi obstáculo. “Nunca tive estudo, mas trabalhei duro na roça, para criar meus filhos. Só sinto falta da companhia do meu marido”. O marido Manoel Brasil faleceu há anos, mas dona Virgínia não se lembra quanto tempo ao certo.
E ela espera continuar, sempre sorrindo. “Sei que não vou mais muito longe”, diz com naturalidade, como se falasse do tempo. “Mas a força, ainda tenho. Agora é esperar”.
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quinta-feira, 13 de maio de 2010
Guilherme Irritante - Genial.
quinta-feira, 8 de abril de 2010
Tristeza estampada na capa

quinta-feira, 25 de março de 2010
Verborrágico
- Sucesso total? - pergunta, com seu jeito descontraído.
- Sucesso total - confirmo, com um riso manchado.
Não importa quantos sóis enfrentemos. Ou chuvas pelas canelas. Nos rádios walk-talks, nos divertindo nas ondas curtas, ou "analisando" possíveis entrevistadas, para depois confirmar em sérias entrevistas. De certa forma, sempre estaremos ligados à paixão pela profissão escolhida. Ainda que a pauta caia.
Gabo, me ajude. Venha me tirar do peito a ilusão de amores tão desentendidos!
Estive em Macondo, em Bogotá, Nova Jersey e Nova York. Agora passeio pelas ruelas cruas da África do Sul, entre fotógrafos consagrados por imagens chocantes.
Até tentei descansar em becos curtos, mas fui arrastado pela enchente que carregou de tudo: móveis, lixo e corações.
Antes de tudo, reencontrei emoções que estavam engavetadas, acumulando poeira. Elas me levaram pela mão: caminhamos juntos em ruas enlameadas, procurando uma piscina para relaxar. E com risos.
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
A Indústria Cultural e o amor.
A Industria Cultural, apresentada por Adorno e Horkheimer, representa a força midiática em relação ao meios de comunicação e o poder de influência sobre a sociedade. O termo aparece em um capítulo específico do livro Dialética do Esclarecimento, escrito por ambos em 1947. É uma análise da cultura dentro do sistema capitalista, em suas vertentes comerciais. O termo serve para designar o modo como a cultura se torna mercadoria pelos meios de mídia. Além disso, a forma como estes meios influenciam as massas é cultivado em seus ideais.
Não estamos falando aqui dos meios de comunicação em si, como a televisão, os jornais ou o rádio, mas do modo como estes meios são utilizados pela classe dominante para o controle social. Nossa abordagem, porém, é voltada a alguns dos produtos da Indústria Cultural, que como num ciclo, transforma tudo em produto. O âmago mercadológico da produção de cultura pelos meios midiáticos faz com que haja uma formação de pensamento de forma alienada, pois isso garante a falta de consciência do público, e o domínio do sistema imposto. Além disso, todas as abordagens da Indústria Cultural a qualquer assunto são superficiais, pois não há real interesse em transmitir uma mensagem por inteiro, caso esta não sirva para gerar o lucro. A única e mais utilizada visão é a de garantia de reprodução das condições de produção. O sujeito alienado não toma parte no todo, portanto não luta a favor de seus interesses, e se mantém dependente da Indústria Cultural, garantindo sua subsistência.
Da mesma forma que a cultura em geral é tratada como produto pela Indústria Cultural, a abordagem mais específica de determinados temas também é banal, visando apenas o lucro. O amor, portanto, é tratado como mercadoria, em produções quase sempre igualitárias e clichês. Como foi dito mais acima, por Schopenhauer, as tramas que possuem âmago amoroso são muito mais rentáveis, pois o interesse humano no assunto é intrínseco e latente. Trabalhar com o amor, portanto, gera lucro inestimável à Indústria Cultural.
O amor está nas novelas, nos filmes, nos comerciais, nas campanhas publicitárias, até mesmo nos jornais. Tudo o que traz amor, vende.
Para o professor e jornalista Rovilson Robbi Britto, nós temos uma dupla realidade social. Uma que é a do cotidiano, e outra, que é a realidade midiática. A Indústria Cultural procura então transformar os valores morais, o amor, a solidariedade, em valores mercantis. Isso atua junto à realidade cotidiana, mas não consegue alterar o que é natural do ser humano. Então, existe mesmo a banalização, porém não é de grande impacto aos valores sociais. A Indústria Cultural, para ele, cria sim padrões, mas não é algo seja a primeira a fazer. Ela estabelece padrões estéticos, morais, de relação, mas isso também se confronta com a realidade das pessoas em geral. Há uma parcela social que tem uma visão mais crítica, o que impede que haja uma totalidade de propostas de padrão vencedoras. Não existe uma regra. O ideal é o que é possível, por mais que a Indústria Cultural busque uma diferenciação comercial. É algo humano demais para ser controlado. O amor sempre deu as costas para qualquer impedimento social, moral ou ético, quando precisou. Não podemos, portanto, atribuir toda a culpa à Indústria Cultural.
A Indústria Cultural trabalha com o amor porque vivemos em uma sociedade de carentes, e ela dialoga com isso. É uma carência universal. Definir o amor em categorias opostas, como o “amor verdadeiro” e o “amor comercial” é perigoso, pois o amor rentável também não é uma exclusividade da Indústria Cultural. Fora dela, também existe a possibilidade da banalização, e pode acontecer de a Indústria Cultural trazer formas de amor verdadeiro. A carência social fragiliza o público, e a Indústria Cultural se aproveita desta fragilidade, para manipular, introduzir ideais. Então, o que é preocupante é como a Indústria Cultural consegue dialogar com esta carência. A porta de entrada para o público é a sua carência. Ela se apropria disso para manter o controle e garantir a rentabilidade.
Existe um reflexo social, a influência é realmente muito grande. Mas não podemos considera-la única. O que existe é uma proposta de banalização e padronização. Encontraremos o amor banal produzido pela Indústria Cultural, mas vamos encontrar também, talvez com um pouco mais de dificuldades, amores que entrem em contraponto. A Indústria Cultural até tenta “matar” o amor, mas a realidade é conflitante, o sentimento é natural ao homem.
O motivo destas tentativas de banalização, não só do amor, mas de todo tema tratado na Indústria Cultural é que para ela o fundamental é banalizar e se apropriar da característica do sentimento. Assim, ao invés de a pessoa estar com o amor, ela estará com a Indústria Cultural. Ao invés de amar alguém, a pessoa estará assistindo e vivenciando o amor da telenovela. Quando as pessoas têm alguma relação que foge a isso, de certa forma diminuem a capacidade de influência da Indústria Cultural.
A Indústria Cultural trabalha com duas formas de amor: uma é o amor impossível, a outra é o amor descartável. Ambas tendem a encaminhar à frustração, e isso é que garante sua estabilidade de manipulação.
O debate é instigante, mas não deveríamos olhar apenas com preconceito. A Indústria Cultural também se abre para aquilo que circula em sentimentos. Existe uma carga de banalização enorme, mas também acaba trazendo amores que estão na sociedade e são reais. A Indústria Cultural trata do amor de forma banal em sua maior parte, mas também traz o amor verdadeiro em determinados produtos. Não devemos nos negar em totem àquilo que é feito pela Indústria Cultural. Filmes como “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”, “A Fraternidade Vermelha” e “A Insustentável Leveza do Ser” mostram uma visão do amor que é instigante, provando que a Indústria Cultural pode trazer produtos culturais, ainda que mercadológicos, muito bons.
Não podemos transformar a parte no todo. Existem as mediações, formalizamos nossas visões. É preciso ter uma visão crítica sobre a Indústria Cultural, assim como é preciso ter uma visão crítica sobre a sociedade.