segunda-feira, 6 de junho de 2011

A abordagem e a função da arte em uma sociedade socialista

Baseado no texto “As Artes e as Massas”




A questão da forma como a arte é tratada em uma sociedade socialista tem sido abordada em diversos estudos de também diversos autores. Para todos, a questão primordial é definir qual é a função das manifestações artísticas em uma nova concepção de comunidade, tão diferente da capitalista, onde se preza a produção em massa e sem profundidade de reflexão.


A arte e a literatura (que também pode se localizar como expressão de arte) socialistas sofrem interferências burocráticas na tentativa de descobrir novas realidades sociais. Estas interferências se dão tanto pela influência externa do capitalismo ainda vigente, quanto pelas complicações internas do novo sistema proposto, além da própria concepção do povo, que ainda guarda “burguesismos” intrínsecos.


O grande porém da abordagem artística atual é que a arte de hoje não é mais feita para classes diferenciadas, para elites. Hoje as grandes massas consomem a arte de forma igualitária. Diferentemente do que acontecia nos séculos passados, milhões de pessoas consomem arte. Isso porque não há mais o prestígio pelo analfabetismo do povo, como ocorria nas sociedades anteriores ao capitalismo e socialismo, mas uma intenção de instruir a população, ainda que minimamente, como é o caso do sistema capitalista, pelo menos para que haja mão de obra excedente. Adorno e Horkheimer já explicitaram que a condição suprema para toda forma de produção é garantir condições de reprodução para as condições de produção. Isso quer dizer que é necessário haver mão-de-obra qualificada e excedente para que o sistema exploratório persista. No entanto, pessoas mais instruídas têm mais chances de contestação, e geralmente esta revolta acontece através do entendimento artístico. É seguro para o capitalismo, portanto, ter a própria concepção de arte, uma arte produzida em massa, para as massas, de forma homogênea, como um meio de controle e padronização da população, além de baseada no lucro dos senhores de capital. Cria-se assim as produções ilusórias, sem profundidade, contos de fadas para iludir ao povo, garantindo que as massas não saibam diferenciar o bom do ruim. A arte também é apresentada como hobby, diversão para as horas vagas, nunca como algo sério.


Em uma sociedade socialista, é diferente. A arte é levada a sério, pois se torna forma de educação para a população. A instrução do povo é tamanha que desaparece o clichê do homem simples. Os artistas são levados pelo Estado a produzir a arte que eduque, para que a consciência seja implantada ao povo. O problema apontado pelos capitalistas à arte socialista é de que suas expressões retrógradas se misturam às modernas sem distinção. Este é um problema mínimo, apenas de transição de sistemas. É importante ressaltar que o cidadão de uma comunidade socialista é capaz de levantar e propor debates longos sobre as expressões artísticas que vivenciou, sejam elas modernas ou tradicionais, pois está acostumado a consumir a arte como essencial à sua educação, e não apenas como fator imbecilizante, tão recorrente no capitalismo. O artista socialista tem a tarefa de educar o público e enfatizar sua responsabilidade social. Assim, a arte por diversão, não de todo negativa, também é aproveitada, mas de forma que seja boa arte. Não precisa ser imbecil para ser divertido, e nem monótono para ser instrutivo.

2 comentários:

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  2. "(...)a condição suprema para toda forma de produção é garantir condições de reprodução para as condições de produção"... tinha que citar isso, hein, Gui?
    Agora a eficácia do marketing, inclusive entre os consumidores alternativos que querem se desvencilhar da massificação, acaba por criar novas ilusões entre os aspirantes ao socialismo. O capitalismo é como água: se molda ao recipiente, à diversidade, sem perder o poder.
    E com isso eu não quis elogiar o sisteminha de nostro core; só constatar.

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