sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Análise: Dialética quanto à Dialética da Solidão de Octavio Paz



Apresentar as idéias sobre a dialética da solidão, como fez Octavio Paz em seu texto homônimo, é de pura intensidade filosófica, quem sabe até sociológica. O autor traz sua idéia de forma clara e concisa, facilitando o entendimento e abrindo um leque de questionamentos e reflexões, que com certeza podem instigar-nos para um novo estudo, talvez até mais aprofundado em uma das várias situações que Octavio Paz nos mostra.
Quando o autor trata do assunto de forma geral e ao mesmo tempo especificada, entendemos que o que ele quer mostrar é que a solidão é uma condição natural do ser humano: ele faz com que o outro se perceba, para o bem ou para o mal, que saia da indiferença. Assim, há um aumento da percepção quanto ao outro. Isso se torna claro já no primeiro parágrafo, em que Octavio Paz diz:

A solidão é a profundeza última da condição humana. O homem é o único ser que se sente só e que busca o outro. Sua natureza – se é que podemos nos falar em natureza para nos referirmos ao homem, exatamente o ser que inventou a si mesmo quando disse “não” à natureza – consiste num aspirar a se realizar no outro. (PAZ,2006 p. 175.)

Para comprovar o que foi dito, Octavio Paz uma ilustração: usa o nascimento como rompimento e tomada de consciência da solidão. Por esse motivo, na solidão buscamos relembrar a fase anterior ao nascimento, na posição fetal, tentando nos proteger. Mas não há nada que possamos fazer, já que “estamos condenados a viver sozinhos”, de acordo com Paz.
Desta maneira, nem o amor em si se consistiria em uma fuga ao destino fadado de solidão. Ora, a solidão é a condição permanente do homem. Apesar disto, para o autor, continuamos a pedir ao amor que nos uma, que nos liberte da solidão, mesmo que por um instante.
Ao tomar esta concepção, Octavio Paz passa a uma discussão a cerca do amor. O autor explica que o amor é uma experiência a qual toda a condição social se opõe. Se voltando mais para a visão masculina, ele diz que a mulher é subjugada, sendo um objeto do desejo amoroso masculino. A imagem é criada pelo homem e aceita pela mulher, que não consegue se esquivar. Porém, há uma quebra destas concepções na imagem da mulher que luta pelo amor. Para isso, para a realização do amor em plenitude, há total necessidade de quebra dos valores – os valores sociais e das concepções cristãs de pecado. Então, a mulher que rompe com os valores para poder amar livremente, muda, mas muda em si, por que se sujeitou a uma ruptura consigo mesma.
O homem, por sua vez, não está livre do controle de valores do mundo. Ele também precisa “fugir”, quebrantar valores, para poder amar. Mas estes valores, contra os quais o homem luta, são os sociais no geral. Não fazendo isso, o homem se sujeita a desposar uma mulher que não ama, apenas por que a sociedade diz que lhe convém.
Neste ponto, Octavio Paz passa a uma discussão sobre o casamento. O casamento é visto pelo autor como algo dissociado do amor, uma afronta à natureza deste sentimento. Além disso, o casamento seria uma forma de condução da sociedade, uma imposição ao homem. O conservadorismo social do casamento iria contra o rompimento, que é a essência do amor.
Desta forma, a proteção do casamento implicaria em um controle e expansão da promiscuidade, já que a sociedade traz tolerância à traição de forma latente. Se não existisse o casamento, para Octavio Paz, não existiriam divórcios, nem prostituição, nem traição, ou qualquer outro relacionado. A única condição seria amar livremente. Mas isso não acontece, o que torna o amor anti-social, dificultado. Assim, negando a natureza, existem as conseqüências.

Fecham-se assim as vias de acesso à experiência mais profunda que a vida oferece ao homem e que consiste em penetrar na realidade como numa totalidade em que os contrários compactuam. Os novos poderes abolem a solidão por decreto. E com ela o amor, forma clandestina e heróica da comunhão. Defender o amor sempre foi uma atividade anti-social e perigosa. [...] Nossa vida social sempre nega qualquer possibilidade de uma autêntica comunhão erótica. (PAZ, 2006. p181-182)

Mas, ainda segundo o autor, o amor não é a única forma de escapar da solidão humana, apesar de ser o mais claro exemplo desta busca. Ele passa então a uma análise da vida do homem em sua completude, mostrando que as rupturas ocorrem várias vezes pelo período da vivência humana. A começar pela infância.
Na infância, o homem busca se ligar aos brinquedos e à afetividade, já que foi separada de sua condição de existência anterior, onde não havia solidão. A criança cria o próprio mundo, dando vida a objetos, para tentar sair de si mesma e buscar aquilo que a completava, mas não sabe o que é e nem como se separou.
Na adolescência, ele rompe de vez com este mundo criado, e novamente se vê sozinho, pois há de se preparar para a fase adulta. É nesta fase que o homem se torna consciente da solidão em que existe. A vida passa a ser uma busca, a busca eterna da plenitude com o outro.
Por fim, a maturidade chega e o homem se esquece desta busca. Isso porque se vê atarefado, e na verdade se esquece de si, perde a consciência. Com isso, se torna novamente solitário. Não se entrega de verdade a nada do que faz, não tem mais motivo de existência, pois a existência humana é baseada na busca pela completude.
Tendo tomado as concepções da solidão e da busca humana pela união ao outro, Octavio Paz explica que esta tem o duplo significado: “ruptura com um mundo e tentativa de criar outro” (2006 p184).
Por ser uma condição humana, todos os povos estariam sujeitos a esta dialética. Analisando desde o homem primitivo, com sua necessidade e até regra de união do grupo, afastando aquele que é solitário, como representação de perigo para o todo, Paz mostra como “o desamparo e o abandono”, por suas próprias palavras (p186), “se manifestam como uma consciência do pecado. Solidão e pecado se identificam”.
Disso até a sociedade atual, a mudança é que o homem passou a ser solitário abertamente. A comparação é que a sociedade agora provém do ser solitário, com o engajamento a uma suposta proteção, vinda das relações sociais. As relações são sobrepostas, e o homem busca mistificá-las, procurando em mitos aquilo que se perdeu com o advento das novas concepções sociais. O centro do universo – que é o si em propriedade – se perdeu, e por isso há uma busca eterna, mistificada em várias analogias, propostas por Octavio Paz.
O autor encaixa este tema no tempo e nos atributos a ele emprestados.

O homem, arrancado desta eternidade na qual todos os tempos são um, caiu no tempo cronométrico e se transformou em prisioneiro do relógio, do calendário e da sucessão. [...] o tempo cronométrico é uma sucessão homogênea e vazia de qualquer particularidade. Sempre igual a si mesmo, desdenhoso do prazer ou da dor, apenas transcorre. (PAZ, 2006 p189)


Em contraponto, há o tempo mítico, que para o autor, é um momento em particular em que o tempo não é mais sucessivo, é uma eternidade cristalizada. Exemplo disto seria o Feriado, onde há uma reprodução de um momento em particular, que passa a re-existir pelo breve espaço de tempo em que se decorre. Seria mais uma ruptura na concepção generalizada. Portanto, o tempo cronométrico seria apenas uma forma de tentar esconder o que está intrínseco: que o mito não será racionalizado, quanto menos destituído. O homem e a sociedade criaram novos mitos, que seguem racionalmente sem perceberem que só estão tentando voltar ao que eram, que estão tentando criar novas rupturas, encontrar-se com eles próprios. “Solidão e pecado se resolvem em comunhão e fertilidade. A sociedade que hoje vivemos também concebeu o seu mito.” (PAZ, 2006 p191).
- Guilherme Peace.

Um comentário:

  1. Meu amigo me mandou ler, porque pode ou podia ou poderá me ajudar...
    obrigada!

    http://plagiodeumabelamelodiaa.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir

Dedica-te ao que convém, exiba o que te influi...