domingo, 4 de janeiro de 2009

Tá vendo o samba te chamar?


Já vendi salgadinhos na rua, aos 12. Já namorei desde pequeno. Já morei em várias cidades, em vários estados. Já viajei por tantos lugares que nem me lembro. Já toquei guitarra, baixo, violão e até tentei batucar na bateria. Já ouvi todos os tipos de música. Já chorei por amor, e já sorri também. Sou o filho pródigo, da parábola cristã. Já briguei por minhas causas, lutei por meus motivos. Já briguei com minha família, já senti falta deles. Já me batizei no catoliscismo, pelas águas dos evangélicos, me benzi em benzedeiras, deixei que lessem meu tarô, li livros de espiritismo, fui adepto do budismo. Já li livros demais, aprendi a ler cedo demais. Já fui mais um clone de Kurt Cobain, já cantei como Dinho Ouro Preto, já gostei de músicas felizes, já dancei em competições. Já vivi na rua, já passei fome, já passei frio. Já me envolvi com tudo o que há de errado. Já fui um homem certo. Já segui as regras do Punk Rock, já gritei "Hey, ho! Lets Go!". Já mergulhei na multidão, já conheci vários palcos. Já fui rockstar, já fui esquecido. Já fui popular, já fui garanhão, já fui sentimental, já fui ambicioso, já fui humilde, já fui brigão, já fui simpático. Já fui criança quando era pra ser adulto, mas principalmente fui adulto quando era para ser criança. Já fui um homem de família, já fui o homem da casa. Já fui marido, já fui namorado, já fui noivo. Já fui paquera, já paquerei, já fui paquerado. Já morei sozinho, já estive sozinho. Na rua, na pensão, na casa de amigos, em um barraco, na casa de estranhos, na casa de parentes, na casa da namorada, em minha própria casa. Já tive tantas casas, que seria difícil contar. Mais difícil acreditar. Já tive dinheiro, já fui pobre. Já amei tantas vezes, e sofri tantas outras. Já tive tantos amigos, agora no passado, mas não esquecidos. Já brinquei de tudo, já trabalhei de tudo. Estudei. Já fui o melhor e o pior aluno. Já fui odiado. Já odiei. Com fervor. Já fui virgem e Libertino. Já fui cantor, ator, compositor, escritor. Já fui até professor. Padrinho, irmão.Já ajudei, já pedi ajuda. Já fui quase morto, já me arrisquei à toa. Fui Amelístico, fui socialista, comunista, libertário, anti-política. Fui seco e sarcástico, caloroso e amoroso. Meigo. Rude. Já passei a gostar de coisas que antes repudiava. Já fui especial para alguém.
E hoje, percebo que ainda tenho muita coisa para viver, muito o que aprender. Percebo que, aos vinte anos, conheço bem mais da vida do que muitos da minha idade já conheceram, mas que ainda não conheço a metade do que a vida tem a me ensinar.
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E diante dessas reflexões, me pergunto:
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Quem sou eu?
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Guilherme Peace Geraldo, 20 anos, Mogi das Cruzes, 09 de Junho de 1988.
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Na foto: Cayo Kobayashi e eu, na manhã em que buscamos nossos ingressos para o Radiohead.
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Dica de Música para esta de semana: John Frusciante - Niandra
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Mais uma canção do meu novo e próximo disco:
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"Tá vendo o Samba te chamar?"
(Guilherme Peace)
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Vê só rapaz! O samba diz algo mais
Teu chapéu palheta pendurado atrás da porta
Ainda espera pra dançar
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Olha o terno deste velho
é branco, é roto, é de imaginar
a pele do pandeiro frouxa de batuques passados
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Tá vendo o samba te chamar?
Tá vendo o samba te chamar?
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Sente isso, samba solo
deixa de medo e vai cantar
Que o carnaval já tá aí

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